Monstros marinhos são abundantes em mapas antigos, especialmente da Idade Média e Renascença, quando o conhecimento europeu dos oceanos e de sua fauna começava a se expandir.
Quanto mais distante e desconhecido era um local, mais monstros ele tinha.
Apesar da sua abundância na cartografia, nunca havia sido feito um estudo sistemático desses animais míticos.
O americano Chet Van Duzer, especialista em história da cartografia, preencheu agora essa lacuna com um livro ricamente ilustrado.
Van Duzer, pesquisador convidado da Biblioteca John Carter Brown, de Providence, Rhose Island, EUA, teve a ideia do estudo em 2009, quando examinava na Biblioteca Nacional de Madri um manuscrito em latim da "Geografia", do grego Ptolomeu (século 1 d.C.).
Ele começou a pesquisar a presença de monstros marinhos em mapas e logo viu que não havia quase nada escrito sobre o tema.
Para Van Duzer, os monstros cumprem duas funções básicas: indicariam perigos para os marinheiros ou seriam elementos decorativos.
"Nos mapas mais antigos, do século 10 ao século 15, eu diria que quase todos os monstros cumprem os dois papéis, indicam perigos e decoram", disse ele à Folha.
"Embora as criaturas nesses mapas antigos pareçam fantásticas para os olhos modernos, elas geralmente eram as melhores tentativas dos cartógrafos de representar o que os livros científicos diziam existir nos oceanos", afirma Van Duzer.
Por exemplo, havia a noção, que vinha desde a antiguidade clássica, de que animais terrestres tinham suas contrapartidas nos mares --como leão-marinho, porco-marinho, lebre-marinha.
Quando um animal novo era identificado, era normal que fosse interpretado e desenhado desse modo --por exemplo, a morsa, com suas presas, foi primeiro desenhado como uma espécie de "elefante-marinho" até surgirem descrições mais realistas.
Em torno da metade do século 16, os mapas desenhados são em grande parte criaturas bizarras, "claramente invenções do cartógrafo", segundo o pesquisador.
"Nesses casos, fica claro que a função dos monstros marinhos é quase inteiramente decorativa."
O cartógrafo sueco Olaus Magnus (1490-1557) foi autor de um dos mapas mais influentes, uma carta náutica de 1539 mostrando a Islândia e a Escandinávia (veja quadro ao lado). Seus monstros foram intensamente copiados por outros cartógrafos.
Baleias são os maiores animais marinhos e portanto eram fonte de medo para os navegadores primitivos, como mostra a história bíblica do profeta Jonas, engolido por um "monstro" desses. Mas quando começam a ser caçadas e exploradas como recurso econômico, deixam de ser retratadas como uma ameaça à navegação.
À medida que avançava o conhecimento náutico e zoológico, os monstros começavam a sumir dos mapas. Foram aos poucos substituídos por ilustrações de navios, como mostra o famoso atlas do cartógrafo holandês Joan Blaeu (1596-1673), publicado entre 1662 e 1672.
"Seus mapas têm muito mais navios do que monstros", diz Van Duzer. "Pela segunda metade do século 17, o período mais rico do desenvolvimento de monstros em mapas já tinha terminado."
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