Península Ibérica e a Invasão Muçumana

Em 711 um povo oriundo do Norte de África, devoto a Maomé e Alá invadiu a Península Ibérica e começou a ocupar os territórios dos reinos cristãos ali presentes, derrotando e devastando todas as forças cristãs que se opuseram no seu caminho. Num curto período de tempo, os Mouros já haviam ocupado quase toda a Península menos os territórios das Astúrias. Neste contexto surgiu o líder cristão Pelágio que iniciou o processo da Reconquista Ibérica e que continua a suscitar vários debates e controvérsias relativas às suas verdadeiras origens e verdadeira identidade.  
No seguimento das primeiras acções de Pelágio surgiu o rei Afonso I das Astúrias que pela primeira vez iniciou uma política intensiva de Guerra ao invasor infiel. As suas campanhas militares alargaram os territórios cristãos às regiões de Braga, Porto, Viseu e Chaves, empurrando os mouros para baixo do Douro. Após estas conquistas, as populações cristãs destas regiões refugiaram-se nas Astúrias e fizeram com que toda a região entre o Douro e o principal reino cristão se tornasse uma terra de ninguém que impossibilitava ou dificultava a realização de um grande ataque mouro aos territórios cristãos. A pouca existência de terras, cidades e de alimentos não permitia grandes campanhas militares acima da Linha do Douro e garantia por bastante tempo a sobrevivência da resistência cristã face ao invasor. A posição cristã saiu fortalecida com o surgimento do reino de Leão. Em 910, Afonso III rei das Astúrias com o objectivo de evitar um futuro conflito com os seus descendentes, resolveu distribuir o seu reino pelos seus três filhos. Garcia o seu filho primogénito ficou com o que mais tardia faria parte do reino de Leão e com alguns territórios da futura Castela. Ao segundo filho Ordonho, entregou os territórios correspondentes á actual região da Galiza e ao futuro Condado Portucalense. Ao mais novo Fruela entregou as Astúrias. 
Após a morte de Garcia, o seu irmão Ordonho uniu os dois territórios e adicionou os territórios do futuro Condado Portucalense, entretanto fundado pelos feitos do nobre Vímara Peres que se destacou na luta de reconquista dos árabes. A Península Ibérica permaneceu neste contexto territorial até á Segunda metade do século XI, quando os reis dos reinos peninsulares e os mouros iniciaram de novo um período mais intenso de campanhas militares. No seguimento destas operações e no contexto de uma nova ofensiva, uma união dos reinos infiéis de Málaga, Sevilha e Granada preparou uma nova invasão contra o reino de Leão e Castela que teve como desfecho a Batalha de Zalaca, onde os cristãos liderados por Afonso VI foram esmagados pelos árabes. A derrota cristã enfraqueceu o principal reino cristão da Península Ibérica e possibilitou aos árabes a recuperação de algum território existente nas regiões ocupadas pelos cristãos. 
A derrota total de Afonso VI e o enfraquecimento das tropas cristãs levou o rei de Leão e Castela a fazer um pedido de auxílio á Europa de voluntários para combater e ajudar os cristãos da Península Ibérica no processo de Reconquista. Foi a partir deste acontecimento que chegou á Península o Conde Raimundo de Borgonha acompanhado pelo seu primo Henrique que mais tarde seria dono do Condado Portucalense. Sobre estes dois nobres não existem muitas informações que nos permitam descrever com exactidão as suas vidas até ao momento mas podemos explicar de que forma estes marcaram a História de um país que nasceu a partir do seu legado. Henrique da Borgonha desempenhou um papel muito activo nas operações de Reconquista, prestando um grande auxílio ao seu primo conde Raimundo que era súbdito de Afonso VI de Leão. Pelos serviços prestados ao primo e ao monarca leonês, D. Henrique recebeu como prémio o Condado Portucalense e casou com uma filha ilegítima de Afonso VI chamada Teresa. 
Em 1112 Henrique morreu e D. Teresa assumiu a governação do Condado Portucalense, sendo reconhecida como tal pela Bula Fratarum Nostrum e pela sua irmã e rainha D. Urraca de Leão e Castela. O mandato de D. Teresa, ficou marcado pela sua relação com o Conde galego Fernão Peres de Trava que pretendia juntar a Galiza aos territórios do Condado Portucalense nas lutas contra o reino de Leão pela independência da Galiza. Tudo parecia encaminhando até que Afonso, filho de D. Henrique e D. Teresa atingiu a maioridade e reclamou para si o controlo do governo do Condado. As disputas entre mãe e filho agravaram-se com a demonstração clara de que Afonso pretendia uma outra política para o Condado baseada na criação de um reino independente e autónomo em relação a Leão e aos nobres da Galiza. No decorrer daquele período, Afonso jogou um jogo perigoso porque não só se rebelou contra a sua mãe que era apoiada por vários nobres galegos como teve a ousadia de desafiar o rei Afonso VII a quem devia obediência e vassalagem. Toda esta atitude do novo e jovem governante do Condado desencadeou uma série de conflitos que começaram por ser travados contra a sua mãe e contra os nobres galegos que pretendiam incorporar os territórios do Condado Portucalense na Galiza. 
O conflito entre mãe e filho culminou na primeira Batalha decisiva deste país no Verão de 1128 em S. Mamede. No decorrer deste acontecimento, o exército do jovem D. Afonso derrotou uma hoste combinada entre tropas da sua mãe e dos nobres galegos, pondo fim a um sonho do Arcebispo de Santiago de Compostela constituir um estado independente face ao reino de Leão. Depois da derrota de D. Teresa, os nobres Galegos não voltaram a tentar apoderar-se do condado e D. Afonso Henriques pode assumir definitivamente o controlo deste, iniciando de imediato uma verdadeira política independentista e de luta pela sobrevivência da sua causa face a Afonso VII de Leão e Castela. Sabendo que Afonso VII conhecia as suas ambições autonomistas, a primeira grande tarefa do novo líder do Condado foi assegurar que as fronteiras a Norte permaneciam em segurança face a uma eventual invasão leonesa. Neste contexto Afonso Henriques aproveitou as desavenças existentes com alguns nobres galegos para ampliar as suas fronteiras para Norte, para reclamar territórios que foram atribuídos á sua mãe no decorrer da sua regência do Condado Portucalense e que foram ocupados pelos leoneses no decorrer do seu conflito com D. Teresa. Aproveitando os problemas que Afonso VII estava a ter com os nobres galegos, D. Afonso Henriques iniciou uma ofensiva para reivindicar a cidade de Tui em 1130. Desta ofensiva nada resultou porque a chegada de um exército leonês liderado por Afonso VII fez Afonso Henriques recuar para o seu território. 
As ofensivas portucalenses na região da Galiza tiveram de parar por um certo período de tempo quando Afonso Henriques se deu conta que a Sul os Mouros se preparavam para iniciar uma invasão ao seu território. Na verdade, por volta de 1142 os mouros avançaram pelo território portucalense, tomando Leiria e pondo em risco a cidade de Trancoso que foi imediatamente auxiliada pelo exército de D. Afonso Henriques que fez a ofensiva moura recuar para lá do Douro. Antes que os infiéis pudessem regressar, o rei português decidiu responder ao ataque com uma grande ofensiva a Sul. Aproveitando o clima das Cruzadas que todos anos faziam passar pela Península Ibérica várias armadas transportando guerreiros em direcção á Terra Santa, o líder português resolveu arriscar um assalto directo á cidade de Lisboa. Apesar de uma grande ajuda, as defesas da cidade provaram ser demasiado duras para as ambições cristãs e o futuro rei português retirou por mar para o Norte. O desastre de Lisboa permaneceria na memória dos portugueses, por vários anos e no período que a ele se seguiu, D. Afonso Henriques entendeu que era fundamental estabilizar as suas fronteiras a Norte e fazer as pazes com o seu primo Afonso VII para que pudesse desempenhar uma política contínua e eficaz de conquista a Sul. 
No período que antecedeu as negociações entre leoneses e portugueses, as notícias de uma eventual e futura invasão moura aos territórios do Condado Portucalense levaram Afonso Henriques a realizar uma ofensiva a Sul para tentar uma Batalha decisiva que reanimasse o espírito de Reconquista e o inicio de uma nova nacionalidade e país. A Batalha de Ourique é até hoje um episódio que suscita várias interrogações, não pela ocorrência deste acontecimento mas sim pela localização e dimensão de tal ocorrência. É de conhecimento geral que D. Afonso Henriques derrotou 5 Reis mouros numa só Batalha mas ninguém sabe ao certo quando e onde ocorreu tal acontecimento. No que diz respeito a questões militares, sabemos ser impossível a Batalha ter sido travada no coração do Baixo Alentejo porque para época, um bom general e estratega como Afonso Henriques não se atreveria a entrar tanto em território inimigo, com o risco de não ter hipótese de retirada. O episódio de Ourique cobriu-se ainda mais de simbolismo patriótico quando no final da Batalha, o exército portucalense aclamou o seu líder como rei e deu a Afonso Henriques luz verde para finalizar a construção de um estado independente com que sempre sonhara. No contexto de construção de um estado, a bandeira do Condado Portucalense deu origem ao escudo português, com a acumulação das 5 quinas que representavam os 5 reis mouros derrotados em Ourique.
Antes da ocorrência dos principais acontecimentos de 1143, o Condado Portucalense passava por um período de acentuado crescimento demográfico e económico, apresentando um acentuado desenvolvimento das suas principais cidades e dos seus centros políticos. No Condado Portucalense, Guimarães foi a Capital Política e de onde partiu toda acção política de Afonso Henriques. No que diz respeito á cidade de Braga correspondia o principal centro religioso do Condado, que favoreceu de ser um dos principais pontos de passagem para as peregrinações a Santiago de Compostela. No século XII a Cidade de Braga constituia um dos principais pontos religiosos da Península Ibérica, favorecendo da existência de uma Igreja primacial. Já o principal centro de comércio localizava-se em Portucale (Porto), que controlavas as rotas comerciais oriundas do Norte da Europa e constituía ponto de passagem obrigatório para quem viaja mais para Sul. 
Foi mais ou menos com a situação geográfica e organização descrita que Afonso Henriques iniciou as conversações com seu primo Afonso VII para o reconhecimento deste Condado como um estado autónomo. Todas estas conversações culminariam no Tratado de Zamora que reconheceria Portugal como um estado independente pela primeira vez.

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