Como a geografia é utilizada na obra de Lima Barreto


Como a geografia é utilizada na obra de Lima Barreto

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Tese: Tristes Fins de Policarpo Quaresma: Brasil entre ficções geográficas no sertão/litoral

AUTOR

Felipe Moura Fernandes

Lattes

ORIENTADOR

Elvio Rodrigues Martins

ÁREA E SUB-ÁREA

Geografia, literatura

PUBLICADO EM

Universidade de São Paulo 14/02/2017

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Esta tese de doutorado, desenvolvida por Felipe Moura Fernandes, na USP (Universidade de São Paulo), investigou como elementos geográficos presentes no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”, do escritor brasileiro Lima Barreto, auxiliam a identificar questões pertinentes à sociedade brasileira.

De acordo com Fernandes, a relação entre literatura e geografia amplia o entendimento crítico sobre a realidade do Brasil.

A qual pergunta a pesquisa responde?

Como os elementos geográficos presentes no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, possibilitam uma leitura sobre a sociedade brasileira?

Por que isso é relevante?

O romance “Triste fim de Policarpo Quaresma” foi publicado originalmente no formato de folhetins no Jornal do Comércio em 1911. A primeira edição da obra em forma de livro só veio a público em 1915.

A obra, ao tratar de questões relacionadas ao campo e à cidade, centro e periferia, trata de temas como estruturas sociais arcaicas e reforma agrária, questões ainda relevantes no contexto social de hoje.

Resumo da pesquisa

O primeiro passo da pesquisa foi estabelecer o recorte temporal e espacial da pesquisa. Apesar de essa seleção ser focada na Primeira República (1889-1930) e na cidade do Rio de Janeiro, houve um recuo até o período do Brasil Império, a fim de demonstrar como a “natureza” antropomorfizada na população indígena foi utilizada pela literatura e pelo Romantismo para criar uma ideia de nação. Após 1870, a centralidade da literatura e da natureza cedem espaço às ciências, que passam a se debruçar sobre as dinâmicas sociais. A partir disso, as teorias raciais ganham terreno no pensamento social brasileiro. Nesse contexto da virada do século 19 para o 20, vários intelectuais brasileiros consideram a noção de “terra” como um conhecimento geográfico capaz de construir uma ideia de Brasil.

Após o estabelecimento desse quadro temporal e conceitual, nota-se que a questão geográfica está presente na obra de Lima Barreto, sobretudo no romance “Triste fim de Policarpo Quaresma” por tratar de conflitos de ordem territorial que até hoje são estruturantes da realidade brasileira e que compõem a relação entre campo e cidade.

Além disso, a metodologia da pesquisa envolve a confecção de mapas. A cartografia do território tratado na obra de Lima Barreto permitiu visualizar com mais clareza o elemento geográfico presente na narrativa. No entanto, os mapas não foram utilizados apenas para construir uma representação geográfica da literatura, mas também para formular novas questões referentes à trama. Nesses termos, o estudo assume a literatura como uma fonte para o resgate histórico do pensamento geográfico e não como uma mera representação de um determinado tipo de conhecimento. Da mesma forma, o objetivo da pesquisa não foi conferir a realidade histórico-geográfica com a realidade ficcional.

Quais foram as conclusões?

A partir do levantamento bibliográfico, foi possível observar que o interesse dos geógrafos brasileiros pelo desenvolvimento de uma abordagem cultural na geografia tem aumentado nos últimos 20 anos.

A relação entre geografia e literatura precisa avançar. Para isso, é fundamental a ampliação do debate sobre algumas dicotomias tradicionalmente estabelecidas, tais como, realidade e ficção, falso e verdadeiro, objetividade e subjetividade, sujeito e objeto, entre outras. Esse avanço teórico e metodológico não deve abandonar a investigação crítica da realidade brasileira.

Quem deveria conhecer seus resultados?

Pessoas com interesses relacionados aos campos da geografia, da história e da literatura.

Felipe Moura Fernandes é licenciado em geografia pela Faculdade de Formação de Professores da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Mestre em história social do território pela mesma universidade. Doutor em geografia humana pela USP (Universidade de São Paulo). É professor adjunto na Uerj.

Referências:

  • ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP, 2010.
  • AMADO, Janaína. Região, sertão, nação. In: Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 8. a. 15, 1995.
  • BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Editora Brasiliense, 1956, vol. II.
  • BROSSEAU, Marc. Geografia e Literatura. In: LOBATO, Roberto e ROSENDAHL, Zeny (org.). Literatura, música e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2007, pp.20-21.
  • SCHWARCZ, Lilia e MONTEIRO, Pedro M. Sérgio com Lima: um encontro inusitado em meio aos modernismos. In: Revista Brasileira de História. São Paulo, 2016.

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